na voz de Marília ela pediu em pequenos gritos
-anda fecha a cortina!fecha!
de
nada
adiantou a prece...
foi então que ela se acalentou com a sombra dum casaco
(tinha alergia à sol )
mas se já era fim de tarde ,que mal haveria?
narrou partes da viagem ,ô mulher... sabia de tudo quase nada....
do aquífero guarani a estrada real
a efeitos do vick aos dos chás.
deixará de ser crente há dois meses mas
confiava em si e em Deus e sim,mais uma vez em si mesma.
ajudará a mãe doente a ir bem cuidada
com sucos,água de côco,gelatina e sopa morna.
roupa de maca bem lavada,sempre trocada ,duas a três vezes dia.
no dia da morte todas as flores que não floreciam a anos na casa das irmãs
floreceram bem naquela manha...elas enfeitaram o caixão (flores perfumadas e irmãs assustadas)
a cara da mãe estava linda gorda de tão inchada,mas linda.
e assim seguiamos viagem.
ela tripulando ouvintes com suas nirvanas reais.
mulher alegre hoje na liberdade solteira:
posso ligar luz, tv, cobrir, sair, ficar e descobrir todas flatulências
e ninguém reclamar (risos sérios acompanhavam as palavras grossas).
se juntou com um militar novo há pouco tempo e o mandou
embora
fosse belo como reinaldo...
esse menino era quase um deus para sua vaidade
mas foi num entardecer que se desfez tal homem ...por intermédios buscados
grotescamente se percebeu...aquele ali não era seu.
comprara uma égua pensando ser um cavalo.
resolveu-se ,agora, só
a viajar
deixando seu corpo pequeno,rechonchudo e flácido sem reflexo no espelho cotidiano,
para desviar suas atenções da pele clara em rugas passou a
ajudar um menino que assim desistiu de roubar,contava ela sem transparecer orgulho.
criança que não vê sempre mas a ajuda na conta da mãe não deixa ausentar.
dinheiro que antes avolumava sua vaidade
agora
dá trabalho a um digestório.
o contado e visto por essa mulher
é curioso escuro e novo
em viagem
suas mãos,ossos com frio
pele sem cor que todo sol entra e permanece frio
cabelo em coque tão alto, um anexo cerebral
velha pelas rugas e amargura
casos tão desafixados de sóbrios valores
que enrubreceriam os menos caretas.
sua voz sem brechas ecoou entre ouvidos bocas
imaginações
seu retrato espanto
suas histórias desconfiança e riso
o conjunto dos membros tristeza
sua viagem a mais pesada das que tentei enxergar
tão clarividente se olhar para o nosso todo
cheio de fatos escondidos e berrantes
cada qual que sem rédeas se deixa fugir dos laços
o faz por medo.
...tõ te querendo como ninguém,tô te querendo como deus quiser...
sem saber como sair sabe onde ficar
tem bocas e línguas
só não sabe como sonhar.
sem paciência com a tv
atura a solidão sem perceber.
medo sem saber que tem
medo
típicamente tribal do quase todo intervalo
social.